Ferraria/Pico das Camarinhas

Ferraria/Pico das Camarinhas

Destinatários: 

         Alunos do 7º ano de escolaridade da disciplina de Ciências Naturais. 

Duração:

          2 horas e 30 minutos

Objetivos:   

         Conhecer alguns aspetos da Biologia e Geologia da zona em estudo;

          Desenvolver atitudes de valorização do património natural;

          Valorizar o papel do trabalho de campo no estudo das Ciências Naturais;

          Analisar situações relacionadas com aspetos de ordenamento do território;

          Estimular o trabalho cooperativo.

Material: 

         Mapas vulcanológicos e geológicos;

         Bússola;

         Lupa de mão;

         Termómetro;

         Calçado e vestuário apropriado;

         Caneta e/ou lápis.

Download: 

Introdução

A Ferraria/Pico das Camarinhas foi classificada em, 2005, como Monumento Natural. Em 2008, foi requalificado pelo decreto Legislativo 19/2008/A, de 8 de julho. Localiza-se na extremidade oeste da ilha de São Miguel, no sopé  Complexo Vulcânico das Sete Cidades.

O Pico das Camarinhas corresponde a um cone de escórias basálticas, com dimensões aproximadas de 400 m×300 m e uma altura de cerca de 50 m em relação à região envolvente. No topo do cone existe uma cratera múltipla, alongada, tal como o cone, segundo uma orientação geral W-E, direção esta que define um alinhamento tectónico radial do vulcão central das Sete Cidades. Os piroclastos constituintes do cone, vulgarmente conhecidos por bagacina, resultaram de uma erupção vulcânica do tipo estromboliano e apresentam dimensões variáveis e uma coloração negra predominante (Nunes e Lima, 2009).

A escoada lávica basáltica do tipo aa emitida pelo vulcão do pico das Camarinhas fluiu para oeste e descendo a arriba segundo declives acentuados espraiou-se no oceano Atlântico dando origem ao delta lávico da Ponta da Ferraria. O delta lávico apresenta uma forma triangular e a linha de costa é digitada, caracterizando-se por arribas mergulhantes verticais. Este delta lávico, também designado de "fajã" lávica nos Açores, ocupa uma área de 129.431 m2 e apresenta uma altitude de cerca de 15 m na parte central. A superfície da escoada apresenta um aspeto espinhoso e áspero, composta por fragmentos lávicos soltos e escoreáceos, designados de clinker. A escoada lávica da Ponta da Ferraria/Pico das Camarinhas é rica em xenólitos/ acumulados mantélicos, com uma composição mineralógica relativamente homogénea (ex:. plagióclases e anfíbolas) (Nunes e Lima, 2009).

A erupção vulcânica responsável pela formação do Pico das Camarinhas e respetiva escoada lávica que originou o delta lávico ocorreu por volta do ano 1140 (Moore, 1991). A escoada lávica emitida fluí sobre o mar, originando um pequeno cone piroclástico à superfície do delta lávico da Ferraria, o qual, com uma cratera circular no seu topo, recebe a designação de cone litoral (ou de pseudocratera), na medida em que não possui uma conduta de alimentação profunda e se formou na sequência de pequenas explosões resultantes do contacto da base da escoada lávica com a água do mar (Nunes e Lima, 2009).

A arriba primitiva foi preservada sob a forma de uma arriba fóssil, com 400 metros de comprimento, 100 metros em altura e uma inclinação de cerca de 35º. Na arriba fóssil podem observar-se as formações geológicas do vulcão das Sete Cidades, entre as quais se incluem escoadas lávicas basálticas e traquíticas, depósitos de Lapilli basáltico e de pedra-pomes, ignimbritos e filões sub-verticais. No sector norte da arriba fóssil, e dispersos numa escoada lávica de ancaramitos e depósitos de escória do Cone da Vázea (5000-+15.000 anos) existem xenólitos ultramáficos de rochas granulares ricas em olivina e piroxena (Nunes e Lima, 2009). Na base do troço sul da arriba fóssil, perto da nascente de água termal, é possível encontrar uma escoada de tristanito, datada de há 74.000+-6000 anos (Moore, 1991).

O domo traquítico existente na área está instalado na mesma fratura radial das Sete Cidades onde se implantou o Pico das Camarinhas, tendo a sua origem em escoadas de natureza traquítica, tendo-lhe sido atribuída uma idade anterior ao Pico das Camarinhas, uma vez que se encontra coberto pelas escórias basálticas provenientes dessa erupção (Nunes e Lima, 2009).

No local podem ser encontrados vários topónimos relativos à Ilha Sabrina, como o "Miradouro Ilha Sabrina" e a "Rua Ilha Sabrina". Este facto resulta da erupção histórica ocorrida em junho de 1881 dC, no mar, a cerca de uma milha a oeste da Ponta da Ferraria, basáltica do tipo surtseiano, que viria a formar uma ilha vulcânica. O seu nome deve-se ao capitão Tillard, comandante da fragata inglesa Sabrina, que navegava perto aquando da erupção. Esta ilha terá desaparecido em meados de outubro do mesmo ano, devido à erosão marinha (Nunes e Lima, 2009).

No seio das formações que constituem a fajã, surge uma nascente de água termal, com uma temperatura de 62,5 ºC, que se dirige para o mar. A água termal da Ferraria tem características físico-químicas compatíveis com uma mistura de água do mar com um fluido primário profundo, tendo sido classificada como cloretada sódica com elevada mineralização. Esta água alimentou, entre 1880 a 1983, o antigo hospital termal da Ferraria, que era utilizado para o tratamento de reumatismo e nevrites. Desde então, esta tradição secular tem-se mantido e as pessoas deslocam-se ora à nascente de água termal ora às termas da Ferraria, entretanto reabertas, para usufruir das propriedades terapêuticas destas águas (Carvalho et al., 2009).

A nível da flora natural açoriana salienta-se a presença da Faia-da-Terra (Myrica faya), Urze (Erica azorica), Bracel da rocha (Festuca petraea) e do Tamujo (Myrsine africana). Para além destas espécies, outras foram sendo introduzidas, como a Cana (Arundo donax). Inscenso (Pittosporum undulatum) e Tintureira (Phytolacca americana). Em termos de vegetação aquática podemos encontrar as seguintes espécies de algas: Alfaces-do-mar (Enteromorpha linza), Ulva rigida, Fucus spiralis, Corallina officinalis, entre outras (SRAM, 2012).

Este local constitui uma importante área para a nidificação do cagarro (Colonectris diomedea borealis) e do Frulho (Puffinus assimilis), classificado por este motivo como área importante para aves - IBA. Também é possível observar algumas aves residentes como a Toutinegra (Sylvia atricapila atlantis), Melro-negro (Turdus merula azorensis), Tentilhão (Fringilla coelebs moreletti), entre outros (SRAM, 2012).

Associadas às Urzes e às Faias podemos encontrar alguns insetos endémicos como as Traças Ascotis fortunata azorica e Cyclophora azorensis, a Traça-da-urze (Argyresthia atlanticella), a Cigarrinha-das-árvores (Cixius insularis), este último existente apenas na ilha de São Miguel (SRAM, 2012).

A nível dos invertebrados marinhos podem ser observadas, emtre outras, a Litorina-preta (Melaraphe neritoides), a Litorina-estriada (Littorina striata) e a craca (Chthamalus stellatus) (Morton, 1998).

Nas nascentes de águas termais existe uma grande diversidade de microrganismos extremófilos (SRAM, 2012).

Referências

Carvalho, M.R., Mateus, A., Nunes, J.C. e Carvalho, J.M. (2009). Caracterização da água termal da Ferraria (S. Miguel, Açores): origem e evolução composicional. Encontro Internacional de Termalismo e Turismo Termal III Fórum Ibérico de Água Engarrafadas e Termalismo, Furnas, Açores. INOVA.

Decreto Legislativo Regional nº. 3/2005/A, de 11 de maio.

Decreto Legislativo Regional nº. 19/2008/A, de 8 de julho.

Moore, R.B. (1991). Geologic Map of São Miguel, Azores. Escala 1:50.000. In: Miscellaneous Investigation Series. U.S. Departement oh the Interior, U.S. Geological Survey (Ed.).

Morton, B., Britton, J.C. e Frias Martins A.M. (1998). Ecologia Costeira dos Açores. Sociedade Afonso Chaves. Ponta Delgada.

Nunes, J.C. e Lima, E.A. (2009). The "Ponta da Ferraria" Lava delta Geosite: Scientific, Educational, Environmental, Historical and Economic (Geoturistic) Value. In: C. Neto de Carvalho e Joana Rodrigues (Ed), Proceedings of VIII European Geoparks Conference. 14-16 September, Idanha-a-Nova, Portugal.

(SRAM) Secretaria Regional do Ambiente e do Mar - Parque Natural da ilha de São Miguel (2002). Guia parque natural de São Miguel - Açores. Governo Regional dos Açores.

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