
Geologia da ilha de São Miguel
Introdução teórica às aulas de campo
Os estudos apontam para o facto de muitos professores evitarem a realização de trabalho de campo por estarem pouco familiarizados com técnicas e organização de uma atividade de campo, devido a limitações logísticas ou falta de materiais adequados ao ensino-aprendizagem em campo (Orion, 1994).
Orion (1993) propõe um modelo organizativo que poderá ajudar os professores a aperceberem-se do potencial das saídas de campo, encorajando o seu uso. Sob o ponto de vista do professor, este modelo subdivide-se em várias etapas que passam por organizar hierarquicamente os conceitos, escolher a área onde será efetuado o estudo, definir e mapear as paragens, relacionar os conceitos do currículo com estas paragens, planear o roteiro, desenvolver os materiais didáticos a usar no ensino-aprendizagem e integrar esta saída de campo no currículo.
Do ponto de vista do aluno, a sua implementação, para o aluno, contempla três unidades principais: unidade de preparação, Saída de campo e unidade de síntese (Orion, 1993).

Na unidade de preparação, que ocorre antes da saída de campo, preparam-se os alunos para a saída através da execução de atividades concretas com o propósito de minimizar o espaço novidade. O espaço novidade é composto por três fatores: cognitivos, psicológicos e geográficos. O fator cognitivo pode ser atenuado através do contacto com materiais e instrumentos que o aluno irá experimentar em campo ou através de experiências em laboratório em que se simula processos ou fenómenos que ocorrem em campo, ou se identifica exemplares do que será observado em campo. Os fatores geográficos e psicológicos também podem ser atenuados em sala de aula através da visualização de filmes, slides, mapas. O professor deverá apresentar a informação detalhada acerca da viagem, como o propósito da viagem, duração da mesma, condições meteorológicas esperadas ou vestuário mais apropriado (Orion, 1993). A qualidade pedagógica da saída de campo também influencia, sendo determinada pela sua estruturação, pelos materiais didáticos e pelas metodologias de ensino utilizadas (Orion, 1994).
Durante a viagem deverão ser definidas tarefas e as modalidades de trabalho (Almeida e Vasconcelos, 2013), sendo recomendado que o professor elabore materiais com a finalidade de auxiliar no processo de ensino-aprendizagem (Esteves et al., 2013), nomeadamente um guião de campo para os alunos, uma guião de campo para o professor e mini pósteres. O guião de campo, destinado aos alunos, permitirá orientar o trabalho dos alunos em cada uma das paragens e deve conter questões que guiem os alunos e promovam o contacto com o meio, através de observação, medição e colheita de amostras. Numa segunda fase deve também conter questões que exijam um maior nível de abstração, em que os alunos têm que explicar o que observaram durante a saída, promovendo-se a este nível, após reflexão individual, a discussão em grupos (Orion, 1989).
A unidade de síntese inclui os conceitos mais complexos, sendo que estes exigem por parte dos alunos uma maior abstração e concentração. Pretende-se que as questões mais complexas, deixadas em aberto durante a saída de campo, sejam agora abordadas e articuladas com os conhecimentos construídos durante a viagem, através de discussão e reflexão por parte dos alunos, permitindo uma maior compreensão dos conceitos mais complexos. Também nesta fase o trabalho de campo deve ser avaliado, verificando se os objetivos foram alcançados e se houve aprendizagem efetiva de campo (Orion, 1993).
Este Monumento Natural caracteriza-se por uma diversidade de estruturas geológicas bem representativas do vulcanismo existente no arquipélago, com particular destaque para um cone de escórias basálticas, uma arriba fóssil, um delta lávico, um domo traquítico, nascentes termais, rochas granulares ricas em olivina e piroxena e o único cone litoral conhecido na região, estruturas que aconselham a sua preservação, tornando aquele local privilegiado para a compreensão de fenómenos geológicos característicos dos Açores. Para além do valor geológico singular, este local possui uma importância histórica, cultural, biológica, cénica e socioeconómica. Deste modo, este local, para além do seu valor científico, possui um elevado valor educativo.
Referências
Almeida, A. e Vasconcelos, C. (2013). Guia prático para atividades fora da escola. Fonte da Palavra. Lisboa.
Esteves, H., Ferreira, P. Vasconcelos, C. e Fernandes, I. (2013). Geological Fieldwork: A Study Carried Out With Portuguese Secondary School Students. Journal of Geoscience Education, 61, 318-325.
Orion, N. (1989). Development of a High-School Geology Course Based on Field Trips. Journal of Geological Education, 37, 13-17.Journal of Geological Education, 37, 13-17.
Orion, N. (1993). A Model for the Development and Implementation of Field Trips as an Integral Part of the Science.
Orion, N. e Hofstein, A. (1994). Factors that Influence Learning during a Scientific Field Trip in a Natural Environment. Journal or Research in Science Teaching, 31(10), 1097-1119.